Morre Amy, nasce um mito
E lá se vai mais um talento derrotado pela dependência química. Até aí, nenhuma novidade. Como disse a rainha Rita Lee, "vida de roqueiro já virou clichê: ou morre de overdose ou vive internado em clínicas de recuperação e vira um dinossauro". Confesso que não fiquei surpreso com a morte de Amy Winehouse e tenho certeza de que não estou sozinho nessa. Desde o início, a talentosíssima cantora fez questão de deixar claro a trajetória que havia escolhido. Várias de suas letras eram carregadas de conteúdo depressivo, inclusive expondo abertamente sua briga contra as drogas em seu maior hit, "Rehab". O que intriga é o fato de Amy se juntar ao time dos artistas que morreram aos 27 anos, tema que já gerou inclusive um livro, escrito por Eric Segalstad e Josh Hunter. Em "The 27s - The Greatest Myth of Rock&Roll", os autores buscam na astrologia, psicologia e até no ocultismo, explicações para os inúmeros casos de falecimentos precoces de astros nesta idade. O livro começa com Robert Johnson e passa por Hendrix, Janis, Morrison e Kurt Cobain, entre outros. Infelizmente, não há edição em português.
Com apenas dois álbuns lançados, Amy se foi em meios às gravações de seu terceiro disco e apesar de pouco material, tem tudo para se tornar mais um mito. Dona de um belíssimo registro vocal, a inglesa resgatou o que havia de melhor no soul e iniciou uma onda retrô que hoje é seguida por diversos artistas, inclusive Adele, cantora citada por mim em um post recente. Sua imagem alternativa, com dezenas de tatuagens e penteados exagerados, era exploradíssima pela mídia e diversas vezes se deixou fotografar em condições claras de debilidade física. Em janeiro, Amy fez uma série de shows no Brasil e gerou uma enorme expectativa sobre sua saúde. A crítica não perdoou as falhas da cantora ao entrar errado em várias canções e sua aparente distração no palco, porém os fãs pareceram não se preocupar com isso e respeitando o contexto, perdoaram todos os deslizes.
Talento exuberante, superexposição, problemas com a polícia, luta contra d/ependência química e visual exótico: Amy tinha todos os ingredientes para se tornar um ícone. Só faltava morrer aos 27. Faltava.